O Ver-o-Peso, maior
cartão postal de Belém, completou na última sexta-feira, 27 de março, 388 anos.
Parabéns Ver-o-Peso!!! 388 Anos de história, sons, cores e sabores.
Parabéns Ver-o-Peso!!! 388 Anos de história, sons, cores e sabores.
Tenho lembrança da minha infância quando meu pai me convidava para ir com ele fazer compras no Ver-o-Peso, sempre aos sábados pela manhã. Achava tão legal acordar cedo, pegar o ônibus e ouvir meu pai assobiar os cantos do Círio de Nazaré... Chegando lá confesso que tinha medo de me perder do meu pai e não saber voltar pra casa. Era muita gente indo de um lado pro outro comprando e trabalhando. Ajudava-o carregando algumas sacolas, claro as mais leves. Gostava de ver as barracas das frutas em especial as que tinham cupuaçu, muruci e bacuri, frutas ácidas de perfume encantador. Ir ao mercado era uma grande aventura!
Passávamos horas andando entre as
barracas de frutas, pimenta, jumbú, charque, camarão (Esses me deslumbrava o
tamanho!!!). O Cheiro do mercado me agradava, tinha medo de pisar no chão
molhado... Gostava de ir também à parte alta do mercado onde ficam a parte do artesanato e das flores. Aquele
lugar me fazia lembrar de casa e da minha mãe, pois aqui em casa até hoje minha mãe tem um zelo todo especial com as plantas e flores; ela diz que casa
assim traz alegria a quem vem nos visitar! Gostava da parte alta também, pois dava pra
ver o Rio.
Lembro também que todo sábado o almoço era peixe e o papai ia cedinho comprar no mercado do peixe, ficava encantada com tantos peixes, de todos os tamanhos e preços. Terminada as compras era hora de voltar pra casa, mas antes parávamos nas barraquinhas de lanche pra comer pastel folhado de queijo e suco de cupuaçu.
Parabéns, Ver-o-Peso!! Pelos 388 Anos de história, sons, cores e sabores...
Texto: Emília Silva Jacob
Histórico
Criado com objetivos fiscais, foi a partir de então que o porto do Piri entrou para a "economia formal", passando a se chamar o "lugar de ver o peso", nome que a tradição oral há mais de 300 anos soube preservar. Um ano depois, em 1689, desembarcou no Ver-o-Peso, vindo das missões dos Omáguas do alto Amazonas, o padre jesuíta Samuel Fritz, autor da carta geográfica mais completa da Amazônia até o século XVII.
Ao longo de todo o século XVIII, o Ver-o-Peso assistiu aos principais eventos e acompanhou as mudanças urbanísticas que a cidade sofria, em seu crescimento para a outra margem do igarapé do Piri. No Ver-o-Peso, ainda naquele século, aportaram no Grão-Pará as primeiras mudas de café vindas de Cayena pelas mãos de Francisco de Melo Palheta, as quais, mais tarde, mudariam a economia e a história do Brasil.
Ao longo do século XIX, muito da história política, econômica e social de Belém continuou passando pelo Ver-o-Peso. No ano de 1823, em seu porto, ocorreu a tragédia do navio Brigue Palhaço, quando 256 pessoas que eram contra a independência do Brasil, após serem presas pelos agentes do governo em seu porão, foram mortas por asfixia por cal em pó. Em 1835, quando estourou a maior revolução social da região, a Cabanagem, foi ali que os cabanos aportaram antes de cruzar o caminho até o Palácio para assassinar o Governador Lobo de Souza e ocupar o poder.
Círio de Nossa Senhora de Nazaré - 2º Domingo de Outubro |
Em 1855, por ocasião de uma forte
chuva ocorrida no dia do Círio, a berlinda que conduzia Nossa Senhora de
Nazaré ficou presa na lama em frente ao Ver-o-Peso. Comerciantes do local
providenciaram uma corda para viabilizar a retirada da berlinda e dar
continuidade à caminhada.
Ainda no início do século XX, no
auge da época da borracha, a paisagem do Ver-o-Peso sofreu novas mudanças:
construção de um mercado pré-fabricado em ferro trazido da Inglaterra na margem
da baía; ampliação do antigo Mercado de Carne, situado nas proximidades;
ampliação do aterramento da baía e construção do porto pelos ingleses, além de
outras construções seguindo um padrão arquitetônico europeu, de estilo eclético
e com grande influência art nouveau, sobretudo nos elementos de ferro
trabalhado artisticamente.
Complexo
do Ver-o-Peso
Complexo do Ver-o-Peso |
Nas proximidades do Ver-o-Peso, o
casario colonial da margem esquerda do antigo Piri continua emoldurando o
conjunto, por trás do antigo Colégio e da Igreja barroca dos Jesuítas, e na
lateral do antigo Forte do Castelo, embrião da cidade. No espaço aterrado do
igarapé, foram construídas a Praça do Relógio e a Avenida Portugal. Na outra
margem, ainda resistem muitos sobrados do século XIX margeando o Mercado e a
feira, seguindo até a Igreja e Convento das Mercês, monumento do século XVIII,
de autoria do arquiteto italiano Antonio Landi. Os dois monumentos
setecentistas, dos Jesuítas e Mercedários, integram os limites do que
atualmente os urbanistas de Belém chamam de "Complexo do Ver-o-Peso",
espaço significativo para a identidade econômica e cultural da cidade de Belém
e de toda a região Norte.
Essa área constituía o antigo centro
da cidade, onde se concentravam as principais atividades de comércio e
serviços. A expansão da área urbana, com o surgimento de muitos outros bairros,
propiciou a criação de novos polos centrais para a vida da cidade. Embora
decadente, o velho centro ainda prepondera sobre os demais, atraindo grande
número de pessoas que por ali circulam diariamente, seja para trabalhar, fazer
a feira, compras,
pagamentos ou simplesmente passear. Por intermédio de eixos viários de
penetração e do sistema de transportes, o centro histórico e o conjunto do
Ver-o-Peso se encontram interligados ao contexto urbano continental.
Reformas
Nos últimos anos foram realizadas duas grandes reformas no Mercado Ver-o-Peso. A primeira aconteceu em 1985, na administração municipal de Almir Gabriel, quando o Mercado de Ferro, com suas torres, colunas e escadas todas em ferro, forjadas em Londres e Nova York e montadas no local, foi restaurado. Também o Solar da Beira, construção em estilo neoclássico, passou por reformas e foi transformado em restaurante e espaço cultural da cidade.
A Praça do Pescador e a feira livre também ganharam melhorias, como também a construção da Praça dos Velames e de barracas padronizadas. Em 1998, foi iniciada uma segunda grande reforma no Ver-o-Peso, sob responsabilidade da Prefeitura de Belém, na gestão de Edmilson Rodrigues, com o objetivo de intervir na feira em âmbito geral, contemplando, assim, aspectos que vão do paisagístico ao que diz respeito à qualificação dos feirantes no atendimento ao público. Essa reforma continuou até o ano de 2002, sendo realizada por etapas.
O complexo do Ver-o-Peso, portanto, constitui-se de um importante patrimônio edificado, situado no centro histórico de Belém, datado dos séculos XVII, XVIII e XIX, uma síntese da conformação arquitetônica da cidade em vários estágios e estilos: edificação militar, barroco jesuítico, arquitetura civil colonial e pós-colonial, estilo neoclássico, estilo eclético e arquitetura industrial. Mas o que faz do Ver-o-Peso um lugar muito especial não é apenas o patrimônio material expresso em sua arquitetura exemplar.
Reforma
do Mercado de Peixe
Em janeiro de 2012, o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) deu início à obra de
restauração e conservação de Mercado de Peixe, atendendo a demanda dos próprios
trabalhadores do local.
O projeto de recuperação do mercado
foi realizado em duas etapas. A primeira fase foi concluída em janeiro de 2014,
com a entrega de 15 lojas, um PM Box, metade da cobertura,
quadro de energia, duas torres e trinta dos sessenta boxes dos peixeiros.
A última etapa de obras foi entregue no dia 23 de março de 2015, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com apoio da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Economia (Secon), que administra o Complexo. Nesta etapa, os permissionários receberam os boxes restantes, novas instalações elétricas e hidrossanitárias, proteção contra descargas atmosféricas, circuito interno de TV, construção de câmaras frigoríficas, banheiros, adequação as normas de vigilância sanitária e reforma total da cobertura com redimensionamento de calhas e condutores.
Os bens tombados no Ver-o-Peso
O Mercado do Ver-o-Peso possui 4
bens tombados individualmente e também está na área de abrangência do Centro
Histórico de Belém tombado pelo Iphan.
Mercado de Peixe ou Mercado de Ferro
O Mercado de Ferro do Ver-o-Peso é
um dos pontos turísticos mais importantes da cidade de Belém. Situado na
confluência dos rios Guamá e Pará, na região conhecida como Baía de Guajará, é
uma das construções de maior destaque do complexo do Ver-o-Peso, com sua
estrutura toda em ferro oriunda da Inglaterra. Inaugurado em 1901 pelo então
intendente Antônio Lemos, é considerado cartão-postal da cidade.
Em seu interior há 67 boxes onde são comercializados peixes e camarões frescos; a área externa é composta por lanchonete, uma barbearia, bares, pontos comerciais de produtos religiosos, de material para pesca, esportivo e descartáveis, e é onde se realiza também a venda de caranguejos vivos.
A história do Mercado de Peixe se confunde com a do Ver-o-Peso em geral, pois naquele local, às margens da baía, desde o início do século XVII foi instalada uma das chamadas Casas do Ver-o-Peso, projetadas no Brasil em 1614, no Rio de Janeiro, para aferição do peso exato de qualquer mercadoria e cobrança dos respectivos impostos. Inicialmente o mercado abrigou a feira com a comercialização de frutas, verduras e demais produtos e somente depois passou a funcionar exclusivamente como Mercado de Peixe.
Mercado
de Carne ou Mercado Bolonha
Trata-se do Mercado Francisco
Bolonha, popularmente conhecido como Mercado de Carne. Abriga lojistas e
feirantes, em sua maioria comercializando carnes e vísceras, mas também alguns
que se dedicam ao comércio de refeições, polpas de frutas e produtos
religiosos. Embora outras mercadorias também sejam vendidas, é unicamente neste
lugar, dentro do complexo do Ver-o-Peso, que se faz o comércio de carne.
Esta edificação tem grande importância histórica por ser um dos prédios mais antigos do entorno. Depois de passar por algumas reformas, empreendidas inclusive pelos próprios trabalhadores, o Mercado de Carne atualmente está sendo restaurado por intermédio do Programa Monumenta.
Horário de funcionamento:
De segunda a sexta-feira, das 7h às
16h; sábado, das 8h às 13h
Praça do Relógio
A Praça Siqueira Campos,
popularmente conhecida como Praça do Relógio é tombada por lei federal de 09 de
novembro de 1977, e por lei municipal de 30 de março de 1990. Foi inaugurada em
05 de outubro de 1931, no perímetro formado pela Avenida Portugal, Doca do
Ver-o-Peso, Rua Pedro Rayol e Travessa Marquês de Pombal.
Solar
da Beira
O Solar da Beira é uma construção em
estilo neoclássico onde funcionava o antigo órgão responsável pela fiscalização
municipal. Atualmente é um espaço misto, de múltiplos usos: abriga o Museu do
Índio e parte da administração da Feira, serve de base para guardas municipais
e dispõe de banheiros abertos 24 horas por dia, que são geridos por uma
cooperativa, na parte inferior do Solar.
Vale a pena conferir...
No dia 25 de setembro de 2012, o Ver-o-Peso ganhou mais uma ferramenta para divulgar suas riquezas em nível local, nacional e internacional, o site “Ver-o-Site”, que foi lançado na sede do Iphan-Pará. O Ver-o-Site tem como objetivo ser uma ferramenta para divulgação do Ver-o-Peso, os produtos que são ali comercializados, suas histórias e memórias, bem como ajudará a salvaguardar as referências culturais que mantém o mercado vivo e encanta moradores de Belém e visitantes.
Visite o Ver-o-Site e mergulhe no universo de sons, cores e sabores do Ver-o-Peso.
Serviço:
Ver-o-Site: http://www.ufpa.br/cma/verosite
Realização: Centro de Memória da
Amazônia-CMA/UFPA e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional-Iphan/PA
Informações: (91) 3222-7280
(Carla Cruz-Iphan/PA) ou (91) 3252-2843 (Rosivan Ferreira-CMA/UFPA)
Texto: Emília Silva Jacob
Imagens: Google Imagens
Fonte:
* INRC Ver-o-Peso, 2010,
Iphan/PA.