domingo, 29 de março de 2015

Ver-o-Peso

O Ver-o-Peso, maior cartão postal de Belém, completou na última sexta-feira, 27 de março, 388 anos.

Parabéns Ver-o-Peso!!! 388 Anos de história, sons, cores e sabores. 


Tenho lembrança...

Tenho lembrança da minha infância quando meu pai me convidava para ir com ele fazer compras no Ver-o-Peso, sempre aos sábados pela manhã. Achava tão legal acordar cedo, pegar o ônibus e ouvir meu pai assobiar os cantos do Círio de Nazaré... Chegando lá confesso que tinha medo de me perder do meu pai e não saber voltar pra casa. Era muita gente indo de um lado pro outro comprando e trabalhando. Ajudava-o carregando algumas 
sacolas, claro as mais leves. Gostava de ver as barracas das frutas em especial as que tinham cupuaçu, muruci e bacuri, frutas ácidas de perfume encantador. Ir ao mercado era uma grande aventura!

Passávamos horas andando entre as barracas de frutas, pimenta, jumbú, charque, camarão (Esses me deslumbrava o tamanho!!!). O Cheiro do mercado me agradava, tinha medo de pisar no chão molhado... Gostava de ir também à parte alta do mercado onde ficam a parte do artesanato e das flores. Aquele lugar me fazia lembrar de casa e da minha mãe, pois aqui em casa até hoje minha mãe tem um zelo todo especial com as plantas e flores; ela diz que casa assim traz alegria a quem vem nos visitar! Gostava da parte alta também, pois dava pra ver o Rio.

Lembro também que todo sábado o almoço era peixe e o papai ia cedinho 
comprar
 no mercado do peixe, ficava encantada com tantos peixes, de todos os tamanhos e preços. Terminada as compras era hora de voltar pra casa, mas antes parávamos nas barraquinhas de lanche pra comer pastel folhado de queijo e suco de cupuaçu.


Parabéns, Ver-o-Peso!! Pelos 388 Anos de história, sons, cores e sabores...

Texto:
Emília Silva Jacob


Histórico

A história do Ver-o-Peso está diretamente ligada à da cidade de Belém do Grão-Pará.

Criado com objetivos fiscais, foi a partir de então que o porto do Piri entrou para a "economia formal", passando a se chamar o "lugar de ver o peso", nome que a tradição oral há mais de 300 anos soube preservar. Um ano depois, em 1689, desembarcou no Ver-o-Peso, vindo das missões dos Omáguas do alto Amazonas, o padre jesuíta Samuel Fritz, autor da carta geográfica mais completa da Amazônia até o século XVII.

Ao longo de todo o século XVIII, o Ver-o-Peso assistiu aos principais eventos e acompanhou as mudanças urbanísticas que a cidade sofria, em seu crescimento para a outra margem do igarapé do Piri. No Ver-o-Peso, ainda naquele século, aportaram no Grão-Pará as primeiras mudas de café vindas de Cayena pelas mãos de Francisco de Melo Palheta, as quais, mais tarde, mudariam a economia e a história do Brasil.

Ao longo do século XIX, muito da história política, econômica e social de Belém continuou passando pelo Ver-o-Peso. No ano de 1823, em seu porto, ocorreu a tragédia do navio Brigue Palhaço, quando 256 pessoas que eram contra a independência do Brasil, após serem presas pelos agentes do governo em seu porão, foram mortas por asfixia por cal em pó. Em 1835, quando estourou a maior revolução social da região, a Cabanagem, foi ali que os cabanos aportaram antes de cruzar o caminho até o Palácio para assassinar o Governador Lobo de Souza e ocupar o poder.


Círio de Nossa Senhora de Nazaré - 2º Domingo de Outubro
Em 1855, por ocasião de uma forte chuva ocorrida no dia do Círio, a berlinda que conduzia Nossa Senhora de Nazaré ficou presa na lama em frente ao Ver-o-Peso. Comerciantes do local providenciaram uma corda para viabilizar a retirada da berlinda e dar continuidade à caminhada.

Ainda no início do século XX, no auge da época da borracha, a paisagem do Ver-o-Peso sofreu novas mudanças: construção de um mercado pré-fabricado em ferro trazido da Inglaterra na margem da baía; ampliação do antigo Mercado de Carne, situado nas proximidades; ampliação do aterramento da baía e construção do porto pelos ingleses, além de outras construções seguindo um padrão arquitetônico europeu, de estilo eclético e com grande influência art nouveau, sobretudo nos elementos de ferro trabalhado artisticamente.


Complexo do Ver-o-Peso
Complexo do Ver-o-Peso
Nas proximidades do Ver-o-Peso, o casario colonial da margem esquerda do antigo Piri continua emoldurando o conjunto, por trás do antigo Colégio e da Igreja barroca dos Jesuítas, e na lateral do antigo Forte do Castelo, embrião da cidade. No espaço aterrado do igarapé, foram construídas a Praça do Relógio e a Avenida Portugal. Na outra margem, ainda resistem muitos sobrados do século XIX margeando o Mercado e a feira, seguindo até a Igreja e Convento das Mercês, monumento do século XVIII, de autoria do arquiteto italiano Antonio Landi. Os dois monumentos setecentistas, dos Jesuítas e Mercedários, integram os limites do que atualmente os urbanistas de Belém chamam de "Complexo do Ver-o-Peso", espaço significativo para a identidade econômica e cultural da cidade de Belém e de toda a região Norte.


Essa área constituía o antigo centro da cidade, onde se concentravam as principais atividades de comércio e serviços. A expansão da área urbana, com o surgimento de muitos outros bairros, propiciou a criação de novos polos centrais para a vida da cidade. Embora decadente, o velho centro ainda prepondera sobre os demais, atraindo grande número de pessoas que por ali circulam diariamente, seja para trabalhar, fazer a feira, compras, pagamentos ou simplesmente passear. Por intermédio de eixos viários de penetração e do sistema de transportes, o centro histórico e o conjunto do Ver-o-Peso se encontram interligados ao contexto urbano continental.


Reformas

Nos últimos anos foram realizadas duas grandes reformas no Mercado Ver-o-Peso. A primeira aconteceu em 1985, na administração municipal de Almir Gabriel, quando o Mercado de Ferro, com suas torres, colunas e 
escadas todas em ferro, forjadas em Londres e Nova York e montadas no local, foi restaurado. Também o Solar da Beira, construção em estilo neoclássico, passou por reformas e foi transformado em restaurante e espaço cultural da cidade.

A Praça do Pescador e a feira livre também ganharam melhorias, como também a construção da Praça dos Velames e de barracas padronizadas. Em 1998, foi iniciada uma segunda grande reforma no Ver-o-Peso, sob responsabilidade da Prefeitura de Belém, na gestão de Edmilson Rodrigues, com o objetivo de intervir na feira em âmbito geral, contemplando, assim, aspectos que vão do paisagístico ao que diz respeito à qualificação dos feirantes no atendimento ao público. Essa reforma continuou até o ano de 2002, sendo realizada por etapas.

O complexo do Ver-o-Peso, portanto, constitui-se de um importante patrimônio edificado, situado no centro histórico de Belém, datado dos séculos XVII, XVIII e XIX, uma síntese da conformação arquitetônica da cidade em vários estágios e estilos: edificação militar, barroco jesuítico, arquitetura civil colonial e pós-colonial, estilo neoclássico, estilo eclético e arquitetura industrial. Mas o que faz do Ver-o-Peso um lugar muito especial não é apenas o patrimônio material expresso em sua arquitetura exemplar
.

Reforma do Mercado de Peixe

Em janeiro de 2012, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) deu início à obra de restauração e conservação de Mercado de Peixe, atendendo a demanda dos próprios trabalhadores do local.
O projeto de recuperação do mercado foi realizado em duas etapas. A primeira fase foi concluída em janeiro de 2014, com a entrega de 15 lojas, um PM Box, metade da cobertura, quadro de energia, duas torres e trinta dos sessenta boxes dos peixeiros. 

A última etapa de obras foi entregue no dia 23 de março de 2015, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com apoio da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Economia (Secon), que administra o Complexo. Nesta etapa, os permissionários receberam os boxes restantes, novas instalações elétricas e hidrossanitárias, proteção contra descargas atmosféricas, circuito interno de TV, construção de câmaras frigoríficas, banheiros, adequação as normas de vigilância sanitária e reforma total da cobertura com redimensionamento de calhas e condutores.


Os bens tombados no Ver-o-Peso

O Mercado do Ver-o-Peso possui 4 bens tombados individualmente e também está na área de abrangência do Centro Histórico de Belém tombado pelo Iphan.


Mercado de Peixe ou Mercado de Ferro

O Mercado de Ferro do Ver-o-Peso é um dos pontos turísticos mais importantes da cidade de Belém. Situado na confluência dos rios Guamá e Pará, na região conhecida como Baía de Guajará, é uma das construções de maior destaque do complexo do Ver-o-Peso, com sua estrutura toda em ferro oriunda da Inglaterra. Inaugurado em 1901 pelo então intendente Antônio Lemos, é considerado cartão-postal da cidade.

Em seu interior há 67 boxes onde são comercializados peixes e camarões frescos; a área externa é composta por lanchonete, uma barbearia, bares, pontos comerciais de produtos religiosos, de material para pesca, esportivo e descartáveis, e é onde se realiza também a venda de caranguejos vivos.

A história do Mercado de Peixe se confunde com a do Ver-o-Peso em geral, pois naquele local, às margens da baía, desde o início do século XVII foi instalada uma das chamadas Casas do Ver-o-Peso, projetadas no Brasil em 1614, no Rio de Janeiro, para aferição do peso exato de qualquer mercadoria e cobrança dos respectivos impostos. Inicialmente o mercado abrigou a feira com a comercialização de frutas, verduras e demais produtos e somente depois passou a funcionar exclusivamente como Mercado de Peixe.


Mercado de Carne ou Mercado Bolonha

Trata-se do Mercado Francisco Bolonha, popularmente conhecido como Mercado de Carne. Abriga lojistas e feirantes, em sua maioria comercializando carnes e vísceras, mas também alguns que se dedicam ao comércio de refeições, polpas de frutas e produtos religiosos. Embora outras mercadorias também sejam vendidas, é unicamente neste lugar, dentro do complexo do Ver-o-Peso, que se faz o comércio de carne.

Esta edificação tem grande importância histórica por ser um dos prédios mais antigos do entorno. Depois de passar por algumas reformas, empreendidas inclusive pelos próprios trabalhadores, o Mercado de Carne atualmente está sendo restaurado por intermédio do Programa Monumenta.

Horário de funcionamento:
De segunda a sexta-feira, das 7h às 16h; sábado, das 8h às 13h


Praça do Relógio


A Praça Siqueira Campos, popularmente conhecida como Praça do Relógio é tombada por lei federal de 09 de novembro de 1977, e por lei municipal de 30 de março de 1990. Foi inaugurada em 05 de outubro de 1931, no perímetro formado pela Avenida Portugal, Doca do Ver-o-Peso, Rua Pedro Rayol e Travessa Marquês de Pombal.



Solar da Beira

O Solar da Beira é uma construção em estilo neoclássico onde funcionava o antigo órgão responsável pela fiscalização municipal. Atualmente é um espaço misto, de múltiplos usos: abriga o Museu do Índio e parte da administração da Feira, serve de base para guardas municipais e dispõe de banheiros abertos 24 horas por dia, que são geridos por uma cooperativa, na parte inferior do Solar.


Vale a pena conferir...

No dia 25 de setembro de 2012, o Ver-o-Peso ganhou mais uma ferramenta para divulgar suas riquezas em nível local, nacional e internacional, o site “Ver-o-Site”, que foi lançado na sede do Iphan-Pará. 
O Ver-o-Site tem como objetivo ser uma ferramenta para divulgação do Ver-o-Peso, os produtos que são ali comercializados, suas histórias e memórias, bem como ajudará a salvaguardar as referências culturais que mantém o mercado vivo e encanta moradores de Belém e visitantes.

Visite o Ver-o-Site e mergulhe no universo de sons, cores e sabores do Ver-o-Peso.


Serviço:
Realização: Centro de Memória da Amazônia-CMA/UFPA e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan/PA
Informações: (91) 3222-7280 (Carla Cruz-Iphan/PA) ou (91) 3252-2843 (Rosivan Ferreira-CMA/UFPA)


Texto: Emília Silva Jacob
Imagens: Google Imagens

Fonte:
* INRC Ver-o-Peso, 2010, Iphan/PA.